Este título tem por referenciais mais imediatos o título que Eça de Queirós deu a seu projeto (“Cenas da vida portuguesa”) que mapearia a sociedade lusa de seu tempo, vista como uma totalidade. A esta idéia soma-se uma expressão que marca um traço forte da cultura contemporânea que lê e ressemantiza “cenas” que a modernidade produziu. Trata-se, na verdade, das cenas da vida pós-moderna, de uma era pós-utópica, atrelada à globalização que, marcada por fatores econômicos, atinge a cultura que se mundializa, pondo em xeque as culturas nacionais, vistas até então sob a forma de fronteira. Essa idéia, nas suas devidas proporções, já havia sido intuída por Cesário Verde. De uma sociedade periférica da modernidade, o poeta, levado pelo “sentimento dum ocidental”, percebeu e registrou o ultrapassamento dessas fronteiras. É deste poeta “moderno” o verso que se escolheu para subtítulo deste Seminário. Por um exercício muito simples de imaginação, poder-se-ia a ele acrescentar: Nova Iorque, Tóquio, Rio de Janeiro, Lisboa, o mundo.
Assim, este Seminário homenageia Eça Queirós, no ano centenário de sua morte, querendo com isto ressaltar a sua modernidade e atualidade. A ele uniu-se outro nome decisivo da “moderna” poesia portuguesa - Cesário Verde. Os dois artistas e intelectuais portugueses servem de ponte para uma reflexão sobre esta nova virada de século, em que os fenômenos da cultura olham a tradição sob novos ângulos. De um ponto localizado em Portugal, expande-se para múltiplos olhares que se mundializam, na medida mesma em que se condicionam pelas tensões entre o local e o global, entre o moderno e o pós-moderno, neste momento em que o século XX fecha para balanço e abrem-se perspectivas permitidas pela mundialização da cultura, na inauguração do século XXI. Aqui, acabam-se unindo Eça de Queirós, que morre num limiar, e o Brasil, que, num outro limiar, comemora seus 500 anos, no ano que homenageia o grande escritor português.
O Seminário Cenas da Vida Moderna e Mundialização da Cultura: “Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o Mundo!”, desta forma, põe em diálogo o Brasil e Portugal e une dois fins de século para projetar olhares múltiplos sobre as “cenas” políticas, sociais, científicas, históricas e literárias, culturais enfim, que a modernidade gerou.
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