Publicada pela primeira vez em 1997, a revista SEMEAR, da Cátedra Padre António Vieira de Estudos Portugueses da PUC-Rio, vem mantendo seu ritmo de publicação anual, confirmado neste número 6, que está sendo lançado em 2002. Em sua primeira parte se contêm as palestras que foram pronunciadas no VIII Seminário, realizado em novembro de 2000, sob o título: Cenas da vida moderna e mundialização da cultura: "Madrid, Paris, Berlim, São Petersburgo, o mundo!".
Este título tem por referencial mais imediato o título que Eça de Queirós deu a seu projeto ("Cenas da vida portuguesa") que abrangeria a sociedade lusa de seu tempo, vista como uma totalidade. A esta idéia soma-se uma expressão que marca um traço forte da cultura contemporânea que lê e ressemantiza "cenas" que a modernidade produziu. Trata-se, na verdade, de cenas da vida pós-moderna, de uma era pós-utópica, atrelada à globalização que, marcada por fatores econômicos, atinge a cultura que se mundializa, pondo em xeque as culturas nacionais, vistas até então sob a forma de fronteira. Essa idéia, nas suas devidas proporções, já havia sido intuída por Cesário Verde. De uma sociedade periférica da modernidade, o poeta, levado pelo "sentimento dum ocidental", percebeu e registrou o ultrapassamento dessas fronteiras. É deste poeta "moderno" o verso que se escolheu para subtítulo deste Seminário. Por um exercício muito simples de imaginação, poder-se-ia a ele acrescentar: Nova Iorque, Tóquio, Rio de Janeiro, Lisboa, o mundo.
Assim, o Seminário homenageou também Eça Queirós, no ano centenário de sua morte, querendo com isto ressaltar a sua modernidade e atualidade. A ele uniu-se outro nome decisivo da "moderna" poesia portuguesa - Cesário Verde. Os dois artistas e intelectuais portugueses servem de ponte para uma reflexão sobre esta nova virada de século, em que os fenômenos da cultura olham a tradição sob novos ângulos. De um ponto localizado em Portugal, expande-se para múltiplos olhares que se mundializam, na medida mesma em que se condicionam pelas tensões entre o local e o global, entre o moderno e o pós-moderno, neste momento em que o século XX fechava para balanço e abriam-se perspectivas permitidas pela mundialização da cultura, na inauguração do século XXI. Aqui, acabavam-se unindo Eça de Queirós, que morre num limiar, e o Brasil, que, num outro limiar, comemorava seus 500 anos, no ano em que se homenageava o grande escritor português.
As palestras, diversificadas e instigantes, provocaram debates com um público sempre atento e participante que estimulou os especialistas das mais diversas áreas da docência e pesquisa (da antropologia, da comunicação, das ciências políticas, da filosofia, das letras, da sociologia), trazidos dos espaços universitários brasileiro e português.
Como sempre, na segunda sessão da revista, Varia, publicam-se textos oriundos das pesquisas de membros da cátedra e de doutorandos a ela ligados.