RESUMO:O artigo de Cristiane d'Avila analisa como José Cardoso Pires, em "O Delfim" (1968), constrói uma representação fragmentada e alegórica da nação portuguesa sob a ditadura salazarista, utilizando a escrita elíptica e a metáfora da sombra para questionar a identidade nacional como uma essência fixa. A autora argumenta que, diante da impossibilidade de narrar diretamente um Portugal dominado por um discurso de poder, Cardoso Pires opta por uma "escrita libertária, de intervenção, revolucionária", que, através da justaposição de imagens de decadência (casa patriarcal, cadáveres, aldeia esquecida) e da multiplicidade de perspectivas, subverte as narrativas hegemônicas. A obra, ao se aproximar de propostas para a literatura que tomam a verdade como horizonte político e reconhecem a impossibilidade de expressá-la diretamente, convida o leitor a pensar a nação não como algo dado, mas como um elemento em permanente construção e desconstrução, liberando o "novo" contido no "sempre-igual" da história oficial.