RESUMO: O texto de Marcos Fiuza analisa "O Delfim", de José Cardoso Pires, como uma obra que, ao invés de buscar uma verdade única, imerge o leitor em uma densa experiência da incerteza, característica de sua escrita ambivalente e multifacetada. O autor explora a complexa estrutura narrativa do romance, que apresenta uma história no plano do enunciado (o mistério do desaparecimento do Engenheiro Tomás Manuel da Palma Bravo e a transformação social da Gafeira) e outra no plano da enunciação, onde o narrador se assume como contador de histórias e se torna o protagonista. Através de depoimentos contraditórios e da multiplicidade de perspectivas dos personagens, Cardoso Pires desestabiliza a noção de verdade absoluta, evidenciando seu caráter subjetivo e construído por discursos. A obra convida o leitor a ser cúmplice do narrador na decodificação de um intrincado mosaico de imagens e relatos, questionando a confiabilidade da memória e a relação entre verdade e poder em um mundo de possibilidades.