"É preciso ser absolutamente moderno"?

A cidade moderna e suas derivas pós-modernas

Renato Cordeiro Gomes
PUC-Rio

Ao final de As cidades invisíveis (1992), de Italo Calvino, esta espécie de suma sobre as cidades e seu imaginário, Marco Polo discorre sobre as possibilidades da cidade perfeita, que poderá estar aflorando dispersa, fragmentada em algum lugar, e não como uma realidade pronta e totalizante. O que importa, diz ele, é procurar essa terra prometida visitada pela imaginação mas ainda não conhecida ou fundada. Não é possível, contudo, traçar a rota nos mapas para chegar até ela. A reação de Kublai Khan, o interlocutor do viajante veneziano, frente a essa impossibilidade, é dar a última palavra, quando ressalta nos seus mapas “as ameaçadoras cidades que surgem nos pesadelos e nas maldições” e conclui: “É tudo inútil, se o último porto pode ser a cidade infernal, que está no fundo e que nos suga num vórtice cada vez mais estreito”.. O imperador, assim, corrói as esperanças na Utopia, quando a percebe subtraída, enquanto certeza, de seu horizonte de expectativas. À palavra que autoritariamente decreta e absolutiza, Marco Polo opõe, no entanto, um outro discurso que relativiza e contra-argumenta: “O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos”. Perfeição e inferno são, assim, termos em tensão, que não se anulam na visão das cidades contemporâneas. Parece que Italo Calvino aponta, com suas alegorias, para o esgotamento da cena moderna, para o ultrapassamento dos valores utópicos em que a modernidade se fundamentava. Por um exercício de imaginação, poder-se-ia dizer que o escritor italiano acrescentara um ponto de interrogação à conhecida afirmação de Rimbaud: “É preciso ser absolutamente moderno”?

Por esta perspectiva certamente seja lícito afirmar que As cidades invisíveis se inscreva numa linha de preocupações que vem marcando este final do século XX, século por excelência da afirmação do urbano, da luta pelo direito à cidade (para usar o velha expressão de Henri Lefèbvre). Como aconselha Marco Polo, ao aproximar-se do ponto em que a narrativa se suspende, mas não se conclui, a solução seja empreender uma tarefa arriscada, que exige atenção e aprendizagem contínuas, ou seja, ler as representações da cidade contemporânea na literatura contemporânea, percebendo a utopia em ruína e os traços infernais das megalópoles em que vivemos, sem, entretanto, abrir mão da capacidade de indignação e das possibilidades do presente, ainda que precário. A procura de uma operação poética para ler as cidades ficcionalizadas pela literatura pode, assim, ser revestida não só de preocupação política, mais sobretudo de postura ética.

Essa literatura é, desta forma, produto de um tempo pós-utópico, em que o presente desaloja o futuro enquanto “terra prometida”, pondo sob suspeita as certezas que a Modernidade anunciava. A literatura, filha desse tempo de subtração dessas certezas, é também filha das megalópoles que põem em questão a própria concepção de urbano arquitetada pelo mundo moderno. De tema privilegiado pelos modernos, a cidade torna-se problema, como foi para as vanguardas, e constitui elemento forte da pauta das questões pós-modernas, quando se constata que a era das cidades ideais caiu por terra (Sarlo, 1990), justamente no momento em que o mundo se torna eminentemente urbano; em que se agudizam as tensões entre o local e o global; em que se desestabilizam as marcas identitárias unas, frente aos clamores pela diferença, pelas singularidades, pondo em crise o conceito de Nação e de identidade nacional; em que as relações sociais parecem mais desterritorializadas ao lado de fortes tendências para a reterritorialização; em que o fato social se mistura com o estético (ver Santos, 1996; Cunha, 1997-1998). O olhar plural que essa literatura constrói procura representar a experiência urbana, já em si substituída, na modernidade, pela vivência do choque, e foca a cidade polifônica a partir, portanto, da contemporaneidade, considerando o espaço urbano como o lugar privilegiado de intercâmbio material e simbólico do habitante, e onde se verifica, por outro lado, a distribuição desigual desse capital simbólico, traço que sublinha as contradições e desigualdades internas das cidades. “Urbe imensa/ pensa o que é e será e foi” de “Aboio”, a canção de Caetano Veloso, bem que poderia funcionar como síntese de uma atitude que se propõe a substituir o lugar do sujeito que pensa (e lê) a cidade pela própria megalópole, um espaço no tempo. Os percursos que essa literatura oferece levam à dramatização daquilo que frustra a idéia de cidade utópica – moderna, racional e funcional; já não pressupõem apenas as teorias da ordem urbana, que não mais dão conta dessa cidade babélica, que se tornou, para a maioria de nós, paisagem inevitável, morada incerta.

Em específico, a narrativa brasileira desta virada de século, ao abordar o humano, demasiadamente humano, nas grandes metrópoles brasileiras que, ao lado de sua especificidade, ganham traços globalizantes, detecta e questiona a literatura de subtração, enquanto tendência da narrativa brasileira nas duas últimas décadas (como demonstrou Alexandre Faria em seu livro Uma literatura de subtração, 1999). Nessas narrativas, o sujeito que lê e interpreta as cidades faz-se um detetive de subtrações, de ausências. E o que se subtrai dessas narrativas urbanas? A idéia de utopia, uma visão una, organizada e totalizante do país, a cidade compartilhada, as marcas identitárias exclusivas e singulares da própria cidade e de homens e mulheres no espaço urbano plural e fragmentário, a fim de pontuar o esgotamento de valores modernos, questionando com destaque a cidade enquanto espaço idealizado dentro de uma perspectiva racional e em função do progresso. Parece que tais narrativas indicam também que, num regime de visibilidade total, o excesso de luz projetado na paisagem aberta da cidade pós-moderna é revelador de seu aspecto obsceno. Oblitera-se a cena e diluem-se as fronteiras entre palco e público, dia e noite, exterior e interior, próximo e distante (Souza, in Gomes, 1994: 13).

Se a metáfora do teatro está adequada para a leitura da cidade nas representações discursivas brasileiras deste século, a exemplos dos pré-modernistas Lima Barreto e João do Rio, ou dos modernistas como Marques Rebelo e os cronistas dos anos 50, parece anunciar-se, hoje, o fim do espetáculo: “este não subsiste sem a separação entre o segredo da intimidade doméstica e o espaço público do consumo significativo; ou melhor, enquanto sobrevive tal distância, que é a da alienação, há o espetáculo – alguma ação em cena”—afirma Otília Arantes (1988: 268), retomando formulações de Baudrillard. Com a anulação de qualquer distanciamento, dá-se a imersão completa do sujeito no objeto. Há uma exposição plena, que cega, ao invés de seduzir. A obscenidade é o reino chapado da superfície.

Esgotar a possibilidade da cena ainda sobrecarregada de sentido parece ser traço marcante de narrativas urbanas de Sérgio Sant’Ana. Paradigmático neste sentido é o conto “Um discurso sobre o método” ( de A senhorita Simpson, de 1989), que tem como ponto de partida um equívoco. O personagem anônimo, referido sempre como “ele”, um lúmpen sem voz, é empregado de uma firma de limpeza cujo uniforme é o invólucro que lhe dá o único traço possível de identidade. Quando faz uma pausa em sua tarefa, para fumar um cigarro, na marquise do 18o andar, onde limpava o lado externo da janela de um edifício, no centro do Rio de Janeiro, é tomado como um suicida em potencial pelos transeuntes que vão se juntando na calçada. Ele, personagem “coadjuvante muito secundário” da vida e que pouca importância dava a si próprio, vê-se de repente no centro das atenções. Ele se transforma num espetáculo para a multidão que o incentiva a pular, e numa “bela hipótese a ser investigada”. Ironicamente, é esta hipótese que o narrador explora, numa espécie de polifonia que toma o personagem como objeto de pesquisa. Assim, esse personagem sem identidade é analisado, a partir das aparências, enquanto “alegoria social, política, psicológica e o que mais quiser”, através de clichês dos discursos político-social, filosófico-existencial, psicanalítico, religioso, poético-romântico – todos em forma do condicional-hipotético. Na impossibilidade de ser sujeito, e vivendo no “terreno do imediatíssimo”, o personagem que não tem fala, é falado pelo discurso dos outros, desdobramentos do discurso do narrador que faz pastiche daqueles discursos, à medida que parodia o Discurso sobre o método, de Descartes, para questionar a autoridade da Razão como única no estabelecimento da verdade. Quer demonstrar que a verdade é uma construção discursiva da multiplicidade de vozes que circulam pelo espaço urbano, inclusive a dos transeuntes anônimos que se divertem com o espetáculo do cotidiano, mesmo que criado sobre um equívoco. O que importa é que o espetáculo se pareça com o espetáculo que se oferece como superfície chapada em sua onipresença.

Ainda sem abolir a aparência de uma significação em cena, o conto de Sérgio Sant’Ana aponta para seu esgotamento, mas ao mesmo tempo para um paradoxo, como o protagonista, que requer uma legibilidade imediata, uma carga semântica altamente diferenciada, como se estivesse a reinstaurar a significação (Arantes, 1988: 269): é aquele “outro”, aquele alguém possível que soprara pensamentos na cabeça do personagem, sobre a marquise. A promessa de significação se concretizaria quando os dois se tornassem a mesma pessoa e falassem a mesma voz. O encontro com o “outro” abre mais uma hipótese entre as muitas que o conto propõe, ou seja, a da autonomia do sujeito, proposta da modernidade, cujo impasse na era pós-utópica o texto tematiza.

De modo semelhante a esse conto, textos da produção de Rubem Fonseca, de Caio Fernando Abreu, de Chico Buarque, surpreendem a cidade enquanto “teatro de uma guerra de relatos” (a imagem é de Michel de Certeau, 1997), levantando um repertório de temas contemporâneos: a proliferação das diversas formas de violência atreladas à cultura do medo, as relações de poder, a cidade da memória e a memória da cidade – o que se tece com o tema da nostalgia de uma cidade mítica perdida e a impossibilidade de resgate, na cidade atual, desses tempos mais amenos (para a cidade-violência da ficção de Rubem Fonseca); a contracultura e suas relações com o universo urbano, que propicia o surgimento da cultura do narcisismo, as experiências extremas ligadas às opções de vida alternativa para além do estabelecido e codificado por uma visão burguesa e acomodada de existência, a instauração da ilusão como elemento indispensável para a vida da metrópole, como tentativa de solucionar o impasse em que o indivíduo se vê excluído do convívio urbano e sem possibilidade de comunicação com seus pares (para a cidade-solidão da ficção de Caio Fernando Abreu); a relação espaço-tempo dos percursos circulares e opressivos do personagem na cidade, ambos sem nome e sem futuro, ambos marcados pela ausência de respostas, pela impossibilidade da linguagem e da fabulação, as tensões entre o tempo mítico e o tempo objetivo – para desembocar num tempo concessivo e num tempo da pedra, com sua opacidade e dureza (para a cidade-tempo da ficção de Chico Buarque) – como se pode ler em Alexandre Faria (1999).

Esses temas apontam semanticamente para a subtração: a literatura fala de ausências e perdas, daquilo que busca pela memória, com certeza o mais forte elemento articulador desses temas, que se encaminha para outra questão básica que essa literatura dramatiza: até que ponto ainda, em tempos pós-utópicos da crise dos grandes paradigmas ideológicos, é a memória que oferece identidade à cidade, aos homens e às mulheres, e à escrita. Os percursos dos personagens em seus deslocamentos no espaço narrativo abrem possibilidades de veios múltiplos na tessitura dos relatos, que possibilitam verificar a significação dessas ausências. Assim, o próprio leitor pode investir-se da máscara discursiva de um “detetor de ausências” (título de uma instalação do artista Rubens Mano, analisada no livro Paisagens urbanas, de Nelson Brissac Peixoto, que aí formula: “A arte na cidade contemporânea só pode aludir ao que ali nos escapa, ao que ali não tem lugar”). É por esse viés que tais narrativas dão destaque ao papel fundamental atribuído à memória, que abre caminho à atualização da temática da “nostalgia”, realizada plenamente em seu belo sentido etimológico: a dor da perda. Perda, ausências, subtrações, que fazem desembocar em “distopia”: lugar, estado ou situação hipotética, em que as condições e as qualidades de vida são penosas (como consta no Dicionário Webster). Ao lado da memória, a distopia estabelece um código comum que possibilita articular textos brasileiros urbanos dos anos 80 e 90.

Nostalgia e distopia é um binômio que marca, assim, outra tendência da ficção urbana contemporânea, a que, frente aos impasses que a cidade enfrenta, se alimenta, romanticamente, da nostalgia projetada num passado idealizado, quando as imagens congeladas nos cartões-postais e os mitos se desgastam, no momento em que se sabe que a era das metrópoles ideais caiu por terra, e a cidade volta a ser um problema como foi para as vanguardas. Exemplar nesta ótica é o conto “A arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro”, de Rubem Fonseca, editada no livro O romance negro e outras histórias (1992). A narrativa quer desentranhar da cidade do presente do protagonista Augusto, resíduos de significados de uma cidade perdida, de uma cena que foi sendo esgotada pela corrosão do mito da antiga Cidade Maravilhosa. Enquanto anda e olha, para depois escrever, Augusto registra a cidade polifônica em sua superfície chapada, ao mesmo tempo que acredita que pode, porque pensa, solucionar os problemas da cidade dividida, não-compartilhada e perversa. Enfoca, precipuamente, a corrosão do diálogo, a perda dos referenciais de sua cartografia afetiva, a violência da destruição da memória da cidade.

Em seu projeto de articular o texto, a cidade e a memória, o escritor andarilho percebe a perda da alma encantadora da cidade reduzida a locais moldados pelo hábito; percebe-a não mais em comunhão com seus habitantes. Deseja com seu livro em processo de escrita redescobri-la, reinventar-lhe uma cena legível, com todas as promessas de significação. Tenta resistir nostalgicamente ao estilhaçamento da cena de outrora; quer recuperar o enraizamento na cidade de sua origem, num momento em que tudo é previamente dado, exposto em visibilidade total. O projeto de Augusto mantém simultaneamente o tom nostálgico e a desilusão pós-utópica, ao alimentar o desejo de tornar legível o espaço urbano, salvando em sua escrita as promessas de significação que a cena moderna permitia.

É por esta ótica que a cidade e algumas de suas representações na literatura brasileira contemporânea, em específico, na narrativa, sem ser mero reflexo especular da realidade representada, atrelam-se à condição eminentemente urbana do país e, de certa forma, condicionam as escolhas estilísticas e temáticas. Essas narrativas deixam ver claramente que “não se deve confundir a cidade com o discurso que a descreve, ainda que haja uma relação entre eles” – como disse Calvino (1992). Por outro lado, deixam também perceber que a cidade, a partir dos processos de modernização, transforma a percepção e reeduca a sensibilidade para esse fenômeno novo e em permanente metamorfose que a modernidade instaurou e a pós-modernidade leva às últimas conseqüências: a cidade torna-se “o paradigma da saturação” (a imagem é de Nelson Brissac Peixoto, 1996). A realidade urbana aí construída deriva, assim, da grande cidade moderna para desaguar no domínio urbano do não-lugar (Sharpe & Wallock, 1987); cidades essas sem face, sem nome, rarefeitas, que se podem tornar toda e qualquer: todas as cidades, a cidade – como já dissera eu no título do livro de 1994.

Essas narrativas contextualizam-se numa época em que, contraditoriamente, as cidades voltam a pensar em si mesmas, quando se deseja reverter a decadência de centros urbanos com a recuperação do papel das cidades (o que o italiano Aldo Bonini chamou de “renascimento das cidades”) (apud Canclini, 1997), quando ganha força a noção de multiculturalidade, ou seja, a coexistência de múltiplas culturas urbanas no espaço que chamamos todavia de urbano (segundo a formulação de García Canclini, 1997). É neste estado de coisas que tais narrativas, abrindo mão da preocupação de ser absolutamente moderno, constroem o cenário da cidade como espaço público e arena cultural, ao mesmo tempo que revelam uma urgência, na medida em que permitem detectar que a cidade determina nosso cotidiano, dá forma aos nossos quadros de vida e é nosso presente turbulento, nossos velhos medos (Barré, 1994).
Num tempo em que “não dá mais para Diadorim” (como diz o escritor entrevistado em “Intestino grosso”, famoso conto de Rubem Fonseca), a cidade, mais do que nunca, continua sendo uma paisagem inevitável. Estar nela, ou procurar lê-la através de textos que a leram, é engendrar respostas para nossas perguntas, mesmo que vivamos em cidades ameaçadoras e não esperemos mais a cidade perfeita, numa terra sem males prometida pelo progresso.

 

Referências bibliográficas

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